Vem conhecer o nosso atual queridinho, Lee Stafford
Cabelo

Vem conhecer o nosso atual queridinho, Lee Stafford

por Vânia Goy

Por Carla Valois, do Morning Beauty

Mesmo adiantada para a entrevista, encontrei Lee me esperando em um restaurante no Soho, aqui em Londres. Assim que nos cumprimentamos, me vi bastante surpresa com a voz rouca e o sotaque inglês forte, característico de Leigh-On-Sea, em Essex. Ele me contou do começo de sua carreira, quando atendia os clientes na sala de casa, até agora, dono da própria linha de produtos capilares com ótimo custo-benefício, exportada para mais de 10 países , inclusive para o Brasil. Lee é simpaticíssimo e muito espontâneo. Logo no início da entrevista, perguntou se eu já tinha experimentado as famosas linguiças da Inglaterra e, aos risos, comentou que seu “pai é o rei da linguiça”. Antes de terminarmos, disse estar encantado com o quanto as brasileiras cuidam bem do cabelo e ainda fez questão de analisar os meus fios. <3

Você foi criado em uma família em que ninguém trabalha na indústria da beleza. Como você começou a cortar cabelo? Nunca planejei, não tinha qualificações nem sabia o que iria fazer [profissionalmente]. Foi, na verdade, uma sugestão da minha mãe. Estávamos em um salão e ela me disse: “você gosta de mulheres e de moda, odeia sujar as mãos e o frio, que tal hairdressing?”. Descobri aí que ela tinha organizado entrevistas de emprego para mim! Eu já entrevistei centenas e centenas de jovens na minha carreira e nenhum, nunca, levou a mãe consigo, mas foi assim que consegui. Arrumei um emprego no West End, em Londres, mas só fiquei lá por dois meses porque levava quatro horas para ir e voltar para casa e não estava ganhando dinheiro, já que todo o meu salário estava sendo gasto nas passagens de trem. Montei um salão improvisado na sala de jantar da minha mãe, onde cortei cabelo durante seis anos sem nunca ter feito um curso. Só fazia um tipo de corte de cabelo, e nem esse eu sabia fazer direito, mas aprendi que relacionamento é uma ferramenta poderosa. Eu era inútil cortando cabelo, só que lido muito bem com pessoas, tenho essa empatia natural e construí uma boa clientela por isso. Onde você aprendeu – de verdade – a cortar cabelo? Depois de seis anos na sala de jantar da minha mãe, decidi que não podia continuar lá para sempre. Entrei em pânico porque pensei: “como posso ser cabeleireiro se só sei fazer um tipo de corte de cabelo, e que ainda é ruim?”. Passei então a frequentar vários cursos, acho que fui em milhares deles, vinha para Londres todas as semanas. Passei dez anos aprendendo, fiquei obcecado em ser bom. Nada veio fácil, [hairdressing] não era, de modo algum, um dom natural que eu tinha.

Você abriu seu primeiro salão em 1984 e em 1997 ganhou o Men’s British Hairdresser of the Year. Como foi essa evolução de cabeleireiro iniciante ao expert das celebridades? Decidi que queria concorrer ao Men’s British Hairdresser of the Year e não tinha nenhum dinheiro para isso. Resolvi tentar mesmo assim e acabei usando todas as modelos na rua, usei roupas de amigos e até eu, bem mais jovem, fui um dos modelos da apresentação. E acabei vencendo esse prêmio! Foi uma virada! Virei um enfant terrible da noite para o dia porque minha proposta foi inédita. Só fiz daquele jeito porque não tinha dinheiro, mas aquilo foi visionário.

Mas você só abriu seu primeiro salão em Londres em 2000. Por que demorou tanto? Eu estava bem feliz trabalhando na minha cidade, mas um amigo com quem morava, fotógrafo de Londres, ficava insistindo que eu “deveria estar em Londres” e plantou essa semente na minha cabeça. E ignorância é uma benção mesmo, porque investi tudo em um salão em Londres, mantendo os dois outros abertos, mas não tinha clientes, não tinha fluxo de caixa e ninguém me conhecia aqui. Quase fali bem rápido, mas o que aconteceu foi que estava em negociação com a Boots para lançar uma linha de produtos, o que levaria dois anos, e eles se mantinham dizendo que pagariam para ter a linha, mas não era o que estava acontecendo e, do nada, os produtores do “This Morning” me chamaram para participar do programa. Daí ganhei a competição e me tornei o hairdresser residente.

E como sua marca surgiu? Entrei em uma negociação com a Boots [rede de farmácias inglesas]. O processo foi incrível; eu tinha muitas ideias de embalagens luxuosas, mas não tínhamos dinheiro para isso e meu sócio disse que teríamos que usar garrafas de plástico, daquelas garrafas arredondadas básicas que se encontra em qualquer lugar. Por um lado, foi bom porque nos fez ter coragem e, porque a Boots demorou dois anos decidindo se ia comercializar ou não os produtos. E foi tudo muito orgânico, quer dizer, nunca contratamos designers, já que não poderíamos bancar designers; o rosa das embalagens veio porque no meu salão de Londres havia uma mesa de recepção rosa, enquanto o cachorro foi ideia daquele de um amigo fotógrafo com quem morei e que me influenciou a vir para Londres.

Desde 2007, você tem estrelado vários programas de televisão, como os realities “Celebrity Scissorhands”, “Secret Millionaire” e “Pointless Celebrities”. Como eles impactaram a sua carreira? É interessante porque a televisão é uma mídia poderosa. Poderia enumerar vários cabeleireiros incríveis que trabalham com moda, como o Sam MckNight, por exemplo, que admiro muito, mas que se você perguntar na rua a maioria das pessoas nunca ouviu falar. A televisão faz você ser conhecido e, se você quer lançar uma marca de sucesso, marketing é um elemento importantíssimo. Quais são os erros mais comuns que as mulheres cometem em relação a seus próprios cabelos? Os cabeleireiros vão me matar por isto, mas acho que um dos maiores erros é que as mulheres pintam demais os fios. Minha mãe e minha esposa são ótimos exemplos: uma hora elas pintam de ruivo, depois de preto, aí de loiro, daí querem voltar ao castanho… Não me entenda mal, há exceções à regra, todas querem inovar, o que eu também admiro, afinal o quão chato é ter o mesmo cabelo a vida toda, como o Rod Stewart? Talvez ele pense que não pode mudar e que faz parte da identidade dele. Uma vez, cortei o cabelo do Ronnie Wood, dos Rolling Stones, e eu fiquei meio sem saber o que fazer, o cabelo dele é icônico, afinal ele é o Ronnie Wood, entende?

E que conselho você daria a elas? As pessoas fazem tratamentos de trás para frente: você tem que usar entre o xampu e o condicionador, porque o xampu limpa e abre as cutículas e quando as cutículas estão abertas é quando o tratamento entra melhor, enquanto o condicionador as fecha com o que há de bom lá dentro. Muita gente, no entanto, faz os tratamentos sem o condicionador, então as cutículas ficam abertas, o tratamento entra e nada vem para fechá-las novamente.

Quais os planos para o seu futuro e o da sua marca? Comecei a abrir escolas, já tenho três abertas e quero abrir mais 47. É uma verdadeira paixão minha. Já a marca está em ascensão. Não acho que posso descansar ainda. Enquanto eu for apaixonado por cabelo, a marca vai continuar seguindo em frente.

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