Como você fala da sua idade?
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Como você fala da sua idade?

por Vânia Goy

Como você fala da sua idade? Fiquei pensando no assunto depois de acompanhar uma série de palestras lideradas por mulheres poderosas do mundo dos negócios durante um dia todo. Todas com trajetórias impressionantes e com presença de palco igualmente impactante. Em todos os discursos que passaram por algo relacionado à idade elas faziam um pedido de desculpas, um comentário reticente ou uma brincadeira irônica.

Coisa que a gente faz o tempo todo sem nem perceber como “nem vou falar quando me formei para não entregar a minha idade”. “Desculpa, gente, mas já passei dos 50, né?” ou “não me fala que você nasceu nos anos 1990 que eu fico mal, nessa época eu já estava namorando!”.

Pesquisando o assunto encontrei um termo que até então desconhecia, o age shaming. Essa noção de que há algo que faz a gente sentir vergonha ou lamentar quando envelhece. Dá pra entender, já que vivemos nessa cultura que enaltece e persegue a juventude a qualquer custo. E, como nada na vida é por acaso, nesse mesmo período a Iza Dezon, responsável pela operação da Peclers Paris no Brasil e parceira de trabalho, me convidou para ajudá-la a preparar dois artigos sobre o assunto. O primeiro para a revista Harper’s Bazaar e o segundo para a revista Atualidade Cosmética, ambos com reflexões sobre o mercado de beleza, mostrando iniciativas e marcas que estão deixando de lado o discurso “fique 10 anos mais jovem” e até abolindo o termo anti-idade nos rótulos dos produtos (vamos combinar que a gente nasce sabendo que essa briga contra o tempo é uma batalha perdida).

Um dos dados que encontramos mostra que em 2050 uma em cada seis pessoas do mundo terá mais do que 60 anos. Então porque não começar a construir uma mentalidade mais preocupada em discutir longevidade do que combater o envelhecimento? Quem já fala disso de um jeito muito inspirador é a francesa Perla Servan Schreiber (na foto acima, do Atelier Doré), intelectual de 75 anos, autora um livro que fala sobre a passagem do tempo. Recomendo demais a reportagem e o podcast gravado pela Garancé Doré com ela. Em um dos trechos, ela fala dessa fase global que vivemos, de revisão e rompimento com vários conceitos sociais e políticos. “Estamos também atravessando esse momento quando o assunto é a idade. Ainda temos uma noção imaginária de idade que não corresponde mais à realidade de envelhecer nos dias de hoje. Por isso quero dizer em alto e bom som: sim, ainda somos sedutoras, ativas, populares, cheias de desejos e sexualidade”.

A conversa da Perla me lembrou duas entrevistas que fiz pro Belezinha e que norteiam um pouco a minha relação com o assunto. A primeira aconteceu em 2016, com a Cecilia Deancriadora da Visionaire, uma das revistas mais legais do mundo. Ela é hipnotizante pela elegância e naturalidade. Perguntei se ela achava que as mulheres andavam obcecadas demais com a idade. Ela, que hoje tem 50 anos, me respondeu mostrando um lado vulnerável e bonito. “Tenho algumas rugas ao redor dos olhos que aparecem quando sorrio. E sempre penso, “talvez eu não deva sorrir nas fotos”. Quando não sorrio e vejo as imagens penso “pareço tão séria, mais velha”. É isso: sorrir te faz parecer automaticamente mais alegre e mais bonita. Acredito que a idade só incomoda quando você não está feliz com o lugar que ocupa no mundo. Eu, ao menos, nunca gostaria de voltar aos meus 20 anos. Tive momentos maravilhosos e memoráveis, mas não desejo fazer o caminho de volta. Me sinto tão mais esperta hoje, tão mais experiente. Tenho conhecimento sobre coisas que eu não tinha, consigo enxergar detalhes que não poderia antes (…) Só melhora com o passar do tempo, mesmo que você sinta as mudanças físicas.”

Também conversei sobre o assunto com a francesa Sophie Fontanel, jornalista de moda, em 2017. Ela é uma estrela das selfies e looks do dia no Instagram. Acompanhei a sua transição do cabelo tingido para o branco nas redes sociais, fase que ela apelidou de “zebra”. “Muitas vezes, pela manhã, olho no espelho e penso ‘parece que tenho 80’. É importante aceitar a verdade, você não é a mesma pessoas todos os dias do ano. Alguns dias me sinto muito jovem, meu corpo muda, a pele está melhor. Em outros está pior. E o modo como você se olha pode mudar tudo.”

Tô nessa vontade de celebrar essa beleza que inclui também a essência e sabedoria. E num exercício de cada vez que for fazer um elogio falar só um “você é linda” ou “a sua pele é linda” em vez do “magina, você está ótima”. Me parece uma boa ideia a gente se  orgulhar que o tempo que passou pra gente, não?

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