Melatonina: não se empolga! Especialistas pedem atenção com a substância para melhorar o sono
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Melatonina: não se empolga! Especialistas pedem atenção com a substância para melhorar o sono

por Danielle Sanches

Melatonina virou hit nas farmácias americanas há alguns anos, muita gente até pedia as cápsulas que induzem o sono pras amigas quando viajam. Sono — ou, melhor, a falta dele — é assunto recorrente porque as rotinas contemporâneas não dão trégua e ninguém consegue manter as horas de descanso em dia. Segundo a OMS, a insônia pode até ser considerada uma epidemia global. No Brasil, uma pesquisa de IBOPE feita em parceria com a biofarmacêutica Takeda mostrou que 65% dos brasileiros têm uma baixa qualidade de sono.

Nesse contexto, melatonina parece até milagre. A substância, conhecida também como “hormônio do sono”, é produzida pelo nosso sistema nervoso e responsável por organizar o horário de dormir e acordar. Ou seja, quando ela é secretada, a gente entende que é hora de “desacelerar” e desligar alguns processos – como a digestão, que fica mais lenta – e ligar outros que acontecem quando estamos dormindo, como o armazenamento de memória, por exemplo. O problema é que, como ela é modulada pela luz solar, só começa a ser liberada quando a noite vem chegando. Porém, com o uso de computadores e celulares até altas horas, esse processo acaba prejudicado e essa liberação fica atrasada, atrapalhando o sono.

Devagar com a empolgação
É nesse contexto que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberou a venda da melatonina sem a necessidade de receita médica – o que quer dizer que você pode adquirir o seu potinho de pílulas em qualquer gôndola de farmácia sem grandes dificuldades. Muita gente comemorou, mas a decisão, no entanto, foi criticada por especialistas. “O uso da melatonina tem indicações bem específicas, como transtornos de sono REM, alterações no ritmo circadiano [quando a pessoa dorme tarde e acorda tarde, por exemplo, prejudicando sua rotina] e ainda algumas síndromes que provocam uma deficiência na produção do hormônio”, afirma Alan Luiz Eckeli, professor do Departamento de Neurociência e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.

Segundo ele, a maioria das pessoas que sofrem com insônia não está nessas categorias. “A população, no geral, acredita que a melatonina é natural e por isso não vai fazer mal, que só vai ajudar”, acredita. “Mas não é bem assim. Ela pode causar efeitos indesejáveis e, pior, não funciona para quem tem insônia”, afirma o médico. Entre os efeitos estão sonolência excessiva durante o dia, dor de cabeça e tonturas. “A melatonina está muito associada à insônia quando, na verdade, a melhor forma de tratar o problema é por meio de terapia comportamental e ajustes na rotina”, afirma.

Quem pode tomar?
De acordo com Claudia Chang, pós-doutora em endocrinologia e metabologia pela USP e membro da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), a recomendação é que apenas indivíduos com transtornos do sono – como os já citados anteriormente – façam uso da suplementação de melatonina. “Existem uma série de variáveis que devem ser analisadas pelo especialista antes de entrar com a suplementação, por isso a recomendação é usar apenas com orientação médica”, afirma.

Nesses casos, a dose recomendada varia entre 0,3mg e 0,5mg, sem nunca ultrapassar 0,21 mg por dia. “Na verdade, sabemos que, quanto menor a dose, maior a eficácia terapêutica, pois se aproxima do que seria produzido de forma fisiológica pelo corpo”, explica Chang.

Se decidir arriscar e comprar algum dos suplementos na farmácia, fique de olho nas quantidades e na procedência do produto. “Nos EUA, em que a substância é autorizada como suplemento alimentar e pouco fiscalizada, existe uma variabilidade grande entre fabricantes com oscilações importantes da dose”, alerta.

Além da dose certa, a hora de tomar também precisa ser programada. O melhor é ingerir o medicamento na hora de dormir, de preferência com a luz já suave ou apagada, já que a substância é mais bem ativada quando há menos iluminação. Mas deu pra entender que antes de gastar seu dinheirinho com esse remédio, que tal tentar adequar sua rotina ou ainda buscar ajuda médica para resolver a questão do sono?

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