Contra o tédio: as fotos de Miles Aldridge + M.A.C
Expert

Contra o tédio: as fotos de Miles Aldridge + M.A.C

por Vânia Goy

Por Carla Valois, colaboradora do Belezinha, de Londres

Em mais uma parceria inusitada, a M.A.C se uniu à editora Rizzoli para lançar o livro “Miles of M.A.C”, que reúne mais de 100 fotografias de Miles Aldridge, as quais refletem bem o lema da marca – “todas as idades, todas as raças, todos os sexos” – e, principalmente, a estética adotada pelo britânico. A gente por aqui é muito fã dos seus editoriais e campanhas de beleza, sempre coloridas, saturadas, quase plásticas.

A coletânea celebra a beleza imperfeita, com “falhas e rachaduras”, como contou o próprio Aldridge, em entrevista concedida em Londres. No dia seguinte ao nosso encontro, aliás, ele inaugurou a exposição “Carousel”, na Sims Reed Gallery, em cartaz até 3 de outubro. Confira o bate-papo na íntegra.

Você se graduou em artes gráficas na Central Saint Martins, então como foi a transição para a fotografia?
Meu pai [Alan Aldridge] já era um grande ilustrador e ele até colaborou com a M.A.C. E eu, como muitas crianças, queria ser como meu pai, ilustrador. Quando pequeno, ele me mostrou que desenhar em um pedaço de papel poderia produzir todo um universo de ideias. Então entrei na Central Saint Martins para estudar design gráfico e tornar-me um ilustrador, mas achei muito chato. Lá pelos meus 20 e poucos anos, achei que esse seria um jeito muito entediante de passar minha vida. Eu tinha essa fantasia de ser diretor ou fotógrafo, não sabia, porém, qual seria. Por um tempo, fui um diretor de vídeos ruim, mas tive a sorte de ter uma namorada que queria ser modelo. Essas imagens foram parar no portfólio dela, que acabou chegando no escritório de alguém da revista Vogue, que então perguntou quem a havia retratado e depois me chamou lá. Ela não é mais modelo, mas ainda sou fotógrafo. Isso já faz 20 anos!

E quando você voltou a ilustrar?
Tive uma carreira incrível até agora, claramente descobri que amo as mulheres e amo fotografá-las, mas, novamente, chegou em um ponto em que comecei a achar tudo muito chato. E me questionei em como fazer o trabalho não ficar chato. [A resposta] Foi voltar à ilustração e fazer desenhos de fotografias que eu queria tirar.

A estética do seu trabalho é bastante impactante, sempre predominada por cores saturadas e mulheres perfeitamente maquiadas e vestidas, mas que parecem vazias ou problemáticas. Como você encontrou seu estilo?
Venho de um mundo muito ligado à beleza. Todas as minhas irmãs são modelos [Lily e Ruby Aldridge], minha mãe era muito bonita e casei com uma supermodelo [Kristen McMenamy], então, para mim, a beleza pura, sem quaisquer defeitos ou rachaduras, era realmente chato. Já usei a palavra “boring” várias vezes nessa entrevista, aliás, mas é que sou contra a chatice. Como artista, como homem e até como humano, não aguento o que é monótono, meus dias são muito curtos para isso. Já como fotógrafo, tendo a chance de assistir minha irmã atuar como modelo da Ralph Lauren, com um martíni na mão em um iate, eu queria, na verdade, era o iate em chamas, queria que as coisas fossem diferentes e torná-las interessantes e emocionantes. Durante toda minha vida me foi vendida essa ideia que a beleza vai te tornar feliz, quando, de fato, não era verdade de maneira alguma. Existe felicidade até na loucura.

Você já dirigiu alguns videoclipes para as bandas The Charlatans e Jesus and Mary Chain. Quais as diferenças você sente entre fotografar e dirigir um filme? E por que, como disse antes, você acredita ser melhor como fotógrafo?
Fotografia, para mim, é mais satisfatória porque com uma única imagem pode abrir as portas da imaginação, enquanto um filme, como uma série de imagens, apenas conta uma história. Claro que existem diretores brilhantes, que eu adoro, mas eu não tenho o talento deles para contar histórias.

Como surgiu a ideia do livro “Miles of M.A.C”, produzido pela M.A.C Cosmetics?
É muito simples, na verdade. Já fiz um livro com a [editora] Rizzoli, chamado “I Only Want You to Love Me”, e estava trabalhando em Nova York com o James [vice-presidente da M.A.C] em um dos nossos projetos quando um dos rapazes da Rizzoli veio me dar “oi” e apresentei os dois. Depois, tive que sair e, brincando, sugeri que fizessem um livro juntos. Quando vi, eles já estavam fazendo um livro, mas a grande surpresa, para mim, é que o livro era totalmente sobre o meu trabalho. Quando recebi o PDF e vi que o livro se chamava “Miles of M.A.C” é que a “ficha caiu”. Quero dizer, fiquei muito lisonjeado e o único fotógrafo que conheço que tem um livro assim é Richard Avedon, que fez um livro com a Versace. Patrick Demarchelier tem um sobre a Dior, mas é diferente porque não é sobre a história dele com a marca e, no meu caso, é.

Apesar de trabalhar com moda e beleza, você acompanha de perto tais indústrias?
Não, de modo algum. Como artista, preciso produzir minhas ideias de forma independente.

Quais outros fotógrafos e artistas você mais admira?
[Richard] Avedon, [Lucas] Cranach [the Elder], Leonardo [da Vinci], [Federico] Fellini, [Ingmar] Bergman, [Horst P.] Horst, [René] Magritte, [Gerhard] Richter, [Hiroshi] Sugimoto, [Helmut] Newton, Giotto e Piero della Francesca.

Ainda existe alguém que você não tenha fotografado, mas que adoraria? E quem você mais gosta de fotografar atualmente?
As mulheres em minha cabeça são quem eu mais gosto de fotografar. Não há nenhuma pessoa real que eu seja obcecado em fotografar.

 

Compartilhe

Leia mais!