Ui! Belezinha entrevista Regina Guerreiro
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Ui! Belezinha entrevista Regina Guerreiro

por Vânia Goy

De riso solto e sinceridade pungente, a editora de moda Regina Guerreiro me recebeu na sala branquíssima de seu apartamento em Higienópolis, São Paulo, para bater um papo sobre moda, modelos magérrimas, histórias “unbelievable” e moda atual. Ela lançou há pouco a webserie Enjoy, parceria com a Cavalera que resultou (por enquanto) em oito programetes deliciosos sobre moda e que o mais vier à sua cabeça.

Exímia contadora de histórias, ela nos deixa um tiquinho a par de tudo o que armazenou na memória e nos livros distribuídos pela casa em seus 50 anos de profissão. A jornalista​ de 74 anos foi uma das primeiras mulheres a trabalhar em uma redação na década de 1960. Mais do que isso, participou ativamente da criação da cobertura de moda no Brasil. Contou histórias por meio de textos onomatopéicos e divertidos, fez críticas ácidas e produziu imagens memoráveis para revistas como Vogue e Elle. Regina viu e fez de tudo: passou horas ajoelhada ajeitando modelos, fez viagens loucas em busca das locações mais inesperadas, acompanhou apresentações de Chanel e Yves Saint Laurent quando elas ainda era feitas para petit comités e o aparecimento das modeletes magérrimas, tema do segundo episódio do Enjoy, lançado essa semana. A gente falou desse e de outros assuntos na entrevista a seguir.

Belezinha – Como essa parceria com a Cavalera começou?
Regina Guerreiro –
Meu primeiro contato com o Alberto Hiar [da Cavalera] aconteceu quando eu escrevia para a Caras. Eu era muito visada na época, as pessoas diziam que eu era muito crítica. Mas ele é muito inteligente e diz que as minhas opiniões eram muito elucidativas. Outro dia ele me convidou para almoçar e eu, que sou uma contadora de histórias, comecei a falar para ele sobre o Vuitton. E ele disse que tinha que gravar isso. Primeiro eu disse que não, mas eles disseram que viriam aqui em casa e cuidariam de tudo. No fim das contas eu estou muito agradecida de estar fazendo. Foi uma forma de eu reatar com o real. Eu andava lendo autores muito papo cabeça e vivendo na minha bolha imaginária. Vou ficar feliz ainda se for um bem, se as pessoas curtirem, aproveitarem e aprenderem coisas que elas não sabiam – e que eu acho que tenho muitas para contar, modéstia à parte.

Como você prepara o Enjoy?
Falar é diferente de escrever. Demorei umas duas semanas para escrever como eu estou falando. O vídeo só tem cinco minutos e eu tenho que agarrar a pessoa instantaneamente. Eu sempre digo para todos os jornalistas que trabalham comigo, você tem que agarrar o leitor pelo colarinho na primeira frase. Queria que as pessoas sentissem que tem cinco minutos de conversa comigo na minha sala. E não falo só de moda.

Qual é o seu episódio favorito?
Gosto muito do “Bonecas à Beira de um Ataque de Fome”. E é muito engraçado porque eu falo do horror que é ser gorda e de como foi decretada essa magreza, porque antigamente as mulheres não eram assim. Nos anos 1960, quando eu ainda estava na Claudia, todas as mulheres eram maiores. Mesmo as belezas das belezas, Gina Lollobrigida e Sophia Loren, tinham corpos voluptuosos. Tudo mudou com a Audrey Hepburn, que desbancou essas atrizes exuberantes, e com a Veruschka, que tinha 1.90 m de magreza pura e foi um grande fenômeno.

O que você acha das proporções atuais das modelos?
É muito mais fácil vestir pessoas assim. São verdadeiros cabides, tudo cai bem. Antigamente, uma roupa de alta-costura não ficava ruim em ninguém. Existia toda uma arquitetura, uma engenharia que deixava você fica maravilhosa. As mulheres reais não são cabides. Acho muito triste essa obrigação de ser tão magra assim. É uma bobagem, é legal ser você, se reconhecer e se aceitar.

Seu corte e cor de cabelo eram uma marca-registrada. Quando você decidiu mudar?
Não foi bem uma mudança. Fiquei muito tempo dentro de casa, então eu não tive aquele período terrível que você não sabe o que fazer quando o cabelo começa a ficar branco. Porque essa fase é realmente muito difícil. E como eu não me olhava mais no espelho, porque eu não gostava mais de mim, atravessei facilmente esse período. De repente, ele estava mais para branco do que para preto. Daí eu resolvi não ter volume e ter uma cara bem limpa. Na verdade, resolvi mostrar a minha cara, que eu sempre escondi atrás da franja.

Eu gosto muito daquele meu penteado, uma coisa Louise Brooks nos anos 20. Naquela hora eu tinha que ser aquilo. Mas agora eu sou uma outra mulher, é outro momento. É um pouco ridículo uma mulher de 70 anos com franjinha (risos). Acho sempre caricato.

E como você cuida dele?
Eu mesma penteio no dia a dia. Todo mês volto no Duda Molinos, que trabalha comigo desde menino e fez esse corte. Como é quase um corte de homem tem que ter manutenção, senão as pontinhas aparecem. E uso um xampu roxo.

Você sempre usou muito batom. Qual é o seu favorito?
​Hoje estou usando um batom da Chanel, número 22, que gosto muito.

Você acompanha a moda atual?
Vejo tudo, mas não é a minha grande paixão hoje. Acho que a moda vive muito mais de memória do que de imaginação. Para as pessoas jovens e muito jovens deve ter muita coisa nova. Para mim é sem emoção. A verdade da moda hoje em dia é vestir a rua, não é vestir uma minoria. Até porque é muito mais generoso, se você tem um talento, atingir mais pessoas.

O que você acha mais “boring”?
A maneira simplificada de se vestir​. Poucas pessoas se individualizam. É o reinado da camiseta, você só muda de cor. Eu sempre brincava: como é que eu vou vestindo Lino Villaventura se abro a porta e tem um cara de jeans me esperando? Não combina! (risos).

 

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