Uma rotina de beleza mais gentil com o meio ambiente
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Uma rotina de beleza mais gentil com o meio ambiente

por Vânia Goy

Óleos vegetais, óleos essenciais, hidrolatos e argilas. Essas joias da rotina de beleza natural são apontadas como aliadas da pele saudável – e ainda com perspectivas de cuidado com a natureza muito animadoras. Eu desconfio de qualquer promessa fácil e já faz algum tempo que venho estudando e testando os produtos naturais pra entender como ter benefícios pra minha pele com o menor impacto ambiental possível. Compartilho aqui um pouco do que aprendi pra você não ter que se debruçar tanto em pesquisas quanto eu.

Os ingredientes botânicos e as receitas caseiras estão virando moda e eu entendo a empolgação. A partir do momento que a gente coloca uma gota de óleo essencial de melaleuca sobre uma espinha pela primeira vez, se apaixona. Mas muitas das práticas incentivadas pela indústria convencional de beleza, como o acúmulo e o excesso, não são legais de reproduzir na rotina de beleza natural. A gente já pode começar a pensar no ciclo de produção do que a gente vai comprar e focar na preservação das fazendas, florestas e rochas que nos oferecem esses ingredientes. Sem culpa demais, mas com inteligência pra fazer boas escolhas. Vem comigo.

sazonalidade
Se vamos basear nossa rotina de cuidados com a pele em ativos botânicos, é preciso lembrar que cada estação do ano oferece uma variedade diferente de plantas. Fazendo uma relação com a alimentação, da mesma forma que não conseguimos produzir tomates no inverno, a florada da camomila, por exemplo, só acontece na primavera e no verão. Na estação correta, a planta concentra o melhor das suas características e ainda produz em maior quantidade sem precisar de estufas plásticas ou de sobrecarga de agrotóxicos e fertilizantes.

Assim, os produtores têm um limite definido, e consequentemente a indústria de beneficiamento também. Quando acaba, acaba. De novo, só no próximo ano. A criadora da Simple Organic, Patrícia Lima, repete essa explicação à exaustão nas redes sociais da marca para consolar clientes carentes de algum produto esgotado.

A alternativa seria buscar matérias-primas pelo mundo. Em outros climas e com condições de solo diferentes, as plantas se desenvolvem em outras épocas do ano. O risco é perder a rastreabilidade, misturar qualidades diferentes e ainda aumentar muito o impacto ambiental no transporte. Além disso, você não vai saber necessariamente nem onde nem como as plantas foram cultivadas.

Essa consciência nos dá a oportunidade de experimentar algo novo e sazonal. De repente você usa um tipo de hidrolato (co-produto da destilação das plantas no processo de fabricação dos óleos essenciais) no verão e outro no inverno.

rastreabilidade
Entender onde cada matéria-prima foi produzida, colhida e processada dá muitas pistas sobre as práticas trabalhistas e ambientais envolvidas antes do produto final chegar até a gente.

A procura por ingredientes regionais também permite descobrir bons ingredientes. Meu óleo facial favorito era o óleo de jojoba, mas ele não é produzido nem no Brasil e nem na França, onde moro. Resolvi experimentar outras variedades e meu novo favorito é o óleo de semente de ameixa, que tem produção local e deixa a minha pele bem nutrida. Assim, também evito cair nas promessas milagrosas dos produtos exóticos – manteigas brasileiras como a de murumuru ou cupuaçu são tão potentes quanto a manteiga de karité do Gana.

Na prática da vida nas grandes cidades, pode parecer impossível rastrear a cadeia de todos os produtos que a gente consome. Um bom começo é privilegiar marcas que não escondem seus fornecedores e que se orgulham de dar nome a eles. As certificações também são uma maneira de entender o que está por trás de um produto. O selo Produto Orgânico Brasil certifica alimentos e outros insumos vegetais, o IBD e os selos internacionais como o Ecocert certificam cosméticos naturais e orgânicos. O selo Fair Trade Max Havelaar certifica relações comerciais social e ambientalmente justas.

concentração
Costumo dizer que os ingredientes naturais trabalham de forma sutil, mas são muito potentes, muitas vezes super concentrados. São extraídos a partir de uma grande quantidade de plantas.

Pensando no tamanho das sementes de uva, imagina quantas delas não são necessárias para conseguir um frasco de seu óleo vegetal. No caso das flores das quais se extraem óleos essenciais, a proporção é chocante. A Souvie, marca de cosméticos que produz parte de seus ingredientes em uma fazenda própria, contou no Instagram que precisa de 800 kg de gerânio para produzir 600 mL de óleo essencial.

Minha proposta é pensar um uso responsável dessas matérias primas. Seu esfoliante de banho não precisa de uma base oleosa. A maior parte do óleo vai pro ralo e sua pele não vai absorver quase nada. A borra do café passado é sozinha um ótimo esfoliante para o corpo. E no final do banho, com a pele ainda úmida, use seu óleo vegetal preferido sem enxaguar ou secar.

Também não precisa usar óleo essencial para tudo. Para acalmar inflamações na pele do rosto, borrifar uma infusão fresca de camomila funciona tão bem quanto o óleo essencial de lavanda.

E, pensando nessa história da concentração, é melhor escolher óleos vegetais, manteigas, extratos e óleos essenciais de plantas cultivadas de forma orgânica ou de colheita selvagem, assim temos a garantia que não há resquícios de pesticidas usados no cultivo chegando até a nossa pele.



Fernanda Cannalonga se formou em moda, trabalhou com tendências e virou estudiosa de estilo de vida consciente. Tenta viver uma vida alinhada com seus valores, é vegetariana, consome alimentos orgânicos e faz seus próprios cosméticos. Ela criou a Jornada Beleza do Bem e mantém uma newsletter inspiradora para quem deseja reduzir o ritmo e repensar escolhas do dia a dia.

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