O reencontro com o corpo, por Mariana Schmidt
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O reencontro com o corpo, por Mariana Schmidt

por Vânia Goy

Quando perguntei para a arquiteta Mariana Schmidt quais práticas ou rituais de cuidado ela havia experimentado ou intensificado nos dias de reclusão recebi como resposta um exercício bonito e inspirador de levar a atenção total para o corpo — algo que persigo tanto nesse mundo altamente digital e mental que vivemos. Dê uma olhada no seu relato e também nas fotos belíssimas que ela enviou!

“Merleau-Ponty, filósofo francês, propôs a retomada da sensibilidade e da percepção no processo de significação do mundo e da existência humana através do corpo, que seria fonte legítima e originária do conhecimento. A artista brasileira Lygia Clark, que revolucionou a relação espectador-obra de arte, desenvolveu uma sequência de trabalhos em estreita sintonia com Ponty usando o corpo como campo de experiência.

Em “Nostalgia do corpo” (1966), Lygia buscava a consciência do corpo pela redescoberta dos sentidos através do uso de objetos sensoriais. Segundo a própria artista, a palavra “nostalgia” fora escolhida por indicar saudade, um possível retorno ao corpo perdido. Esse retorno, por sua vez, se daria por meio dos objetos utilizados como elementos intermediários no despertar das sensações corporais. Os objetos eram simples, de uso cotidiano, sem valor de mercado e quase reduzidos ao material que os constituía, como, por exemplo, pedras, elásticos, conchas. 

A dinâmica e o diálogo construídos são puramente sensoriais, permitindo, pela ausência da palavra, a (re)descoberta de uma expressão tão sufocada por um discurso verbal racionalizado. 

Durante a quarentena reencontrei meu caminho ao silêncio através da prática sem regras, sem tempo determinado, sem fim, para minha Nostalgia do corpo. Usei pedras que, ao longo dos anos, trouxe de lugares que viajei ou ganhei de amigos que lembraram por algum motivo de mim.  

Me conectei com objetos que me fizeram, de alguma forma, retornar ao próprio corpo, ao estado presente, mapeando a memória de partes esquecidas, não tocadas ou vivenciadas. De alguma forma, mapear o meu próprio corpo me trouxe para um presente mais consciente de todas as limitações vivenciadas. E meu silêncio preenche o vazio das incertezas de uma forma mais leve comigo mesma. Convido a todos que quiserem se permitir, a encontrar a sua própria  nostalgia do corpo.”

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