Sound bath: como as vibrações sonoras podem te ajudar a relaxar e se sentir melhor
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Sound bath: como as vibrações sonoras podem te ajudar a relaxar e se sentir melhor

por Larissa Nara

Para o chá de bebê de seu quarto filho, no começo de 2019, Kim Kardashian preparou um dia todo de terapias e práticas de bem-estar para os convidados. Entre os rituais, uma meditação sonora criada a partir das vibrações harmoniosas de taças e tigelas de cristal. Chamada sound bath, sound healing ou, em tradução livre, banho de som, a terapia tem raízes em práticas tibetanas milenares e está ganhando força com novas abordagens.

As propriedades do som e das vibrações emanadas por tigelas e diapasões terapêuticos já são conhecidos empiricamente — se você já fez alguma sessão de yoga e meditação, deve se lembrar do profundo efeito calmante daquele gongo soado no final–, mas a ciência também está começando a se interessar pelo poder do som sobre o cérebro. De estudos que mostram a capacidade da música de curar angústia e até mesmo ajudar no nosso bem-estar físico e mental ao desenvolvimento de sons artificialmente inteligentes criados por prodígios do Vale do Silício, à medida que avança, a neurociência comprova o poder das vibrações sonoras em favorecer a concentração, induzir o sono, contribuir com a melhora da memória, humor e até auxiliar na cura de traumas emocionais. 

Em entrevista publicada no começo do mês pela Elle britânica, o neurocientista Mendel Kaelen, pesquisador do potencial terapêutico do som e de substâncias psicodélicas (como a psilocibina, encontrada em alguns cogumelos) para o tratamento de problemas como depressão e alcoolismo, conta que em seus questionários, mais da metade dos participantes relatou ter uma experiência de pico ao ouvir os sons, levando a uma mudança em seu bem-estar geral. “Essas experiências são definidas como um sentimento de união consigo mesmo, com a vida e com o cosmos, além de uma imensa admiração pela beleza do mundo”. O cientista explica ainda que as viagens sonoras envolventes nos permitem explorar as profundezas de nossas mentes, nos ajudando a resolver conflitos internos e a caminhar em direção à calma.

Onde experimentar
Por aqui, terapias do tipo começam a aparecer em spas e centros terapêuticos. No spa do hotel Unique Garden SPA, em Mairiporã, pertinho de São Paulo, é possível agendar a sessão individual de Mesa Lira, também chamada de massagem sonora, por R$ 260. “Trata-se de uma maca com 42 cordas sob o tampo, todas afinadas em ré. Com o paciente já deitado, o terapeuta dedilha as cordas variando a intensidade e velocidade, o que pode levar a diversas sensações e um profundo relaxamento. É uma ótima ferramenta de vibração para o corpo e para mente”, explica Solange Selin, terapeuta responsável. Para o dobro de relaxamento, ela indica completar o tratamento com uma sessão de massagem abhyanga, protocolo ayurvédico feito com óleo corporal. E foi o que eu fiz! Achei fácil me deixar levar pelo ambiente à meia luz e pela vibração das cordas e a massagem com óleos depois foi essencial. Sou meio resistente a massagens, mas já estava tão relaxada da música que e não senti nenhuma oposição ao toque. Delícia!

No Eleva Sound Healing, que fica em São Paulo, o procedimento é personalizado, mais profundo e emocional. Conheci o trabalho do Felipe Sucupira, terapeuta e idealizador do projeto, em meados de 2019. Ex-publicitário, ele teve seu primeiro contato com a terapia do som após uma crise de identidade aos 28 anos, enquanto visitava um centro de yoga e meditação indiano, em Londres, durante um ano sabático. Desde então, se dedica ao estudo e aplicação da terapia do som. “Trata-se de um tratamento complementar à psicoterapia, onde a fala e o som exercem um papel fundamental na hora de organizar a consciência, revelando processos inconscientes e restabelecendo a cura. Por meio das vibrações e ressonância sonora, convidamos tudo que está em desarmonia no nosso corpo e campo energético a se alinhar novamente”, diz.

O que mais me impressionou, além da terapia em si, foi o protocolo que antecede o início do tratamento. Além de um questionário, ele faz um diagnóstico hi-tech que revela nossas maiores necessidades: por meio da ponta dos dedos, um aparelho que “fotografa” nossa energia vital (!) e mostra a forma como ela está fluindo no corpo. O segundo é um software que decupa as notas musicais presentes na nossa fala (!!). Só depois deitei na maca posicionada no centro da sala, com o ambiente preparado e livre de qualquer interferência de luz ou ruído externo. À medida que eu ia respirando e me concentrando nos sons emitidos pelas tigelas de quartzo e outros instrumentos tocados intuitivamente por Felipe, fui desligando completamente. Não estava totalmente ausente do ambiente, mas vivenciei um estado de consciência e relaxamento que nunca tinha experimentado antes. Entre sons agudos e graves, despertei com o corpo pesado, a mente silenciosa e me sentindo completamente em paz comigo mesma, como se tivesse acabado de acordar de uma longa noite de sono. Saí da tranquila e com vontade de voltar no dia seguinte. Felippe me explicou que cada pessoa reage de uma maneira diferente. “A proposta durante a sessão é que você consiga relaxar, respirar calmamente e encontrar um lugar interno seguro para repousar, mas é difícil explicar o que acontece exatamente com cada um durante a sessão”.  Os valores variam entre R$ 250 e R$ 450, dependendo do tipo do tratamento escolhido e pode ser feita individualmente ou em casal, por crianças e gestantes, para empresas, em domicílio.

Em casa
Para quem quer conhecer os benefícios do som em casa, Luiz e Rita Pontes são fundadores da Som de Cristal, que comercializa de tigelas de quartzo ideais para a prática e pioneiros no assunto aqui no Brasil. “As tigelas chegaram na nossa vida em 2006, por acaso. Recebemos, aqui em São Paulo, um amigo americano com uma delas e ele permitiu que a gente experimentasse tocar e nos apaixonamos pelo leque de bem-estar e insights poderosos gerados pelo som”, diz Luiz. Ele explica que as tigelas são criadas a partir do pó de quartzo fundido em alta temperatura e que as versões foscas variam de 6 polegadas a 28 polegadas,  e que cada uma delas pode ter uma nota musical. Quanto menor a tigela, mais agudo o som. E quanto maiores, mais grave. “Elas são grandes facilitadoras da meditação, podem ser usadas para você ou tocando para alguém que precise de equilíbrio”, explica Rita. O casal, inclusive, organiza verdadeiros concertos com outros praticantes e, durante a pandemia, encontros digitais..

“Me lembro que a primeira vez que toquei senti uma dor de cabeça terrível. Aos poucos, fui me aproximando do instrumento, tocando de forma fluida e permitindo que eu encontrasse calma e me sentisse centrada”, conta Rita. “Passamos a tocar para nós, para os amigos que recebíamos em casa e, aos poucos, começamos a trabalhar com as tigelas. Sentíamos que, como nós, muita gente era tocada e sentia o impacto positivo dos sons de cristal.” 

Ficou com vontade de provar e não sabe por onde começar? “Quando nos perguntam qual tigela comprar ou qual som escolher, recomendo sempre que você escute seu coração. Abastecemos o nosso site de possibilidades sonoras, cursos e vídeos para que cada um navegue e aprofunde essa relação com as tigelas de cristal e as possibilidades sonoras”, diz Luiz. “Uma das coisas admiráveis dos instrumentos é a rápida conexão criada entre a audição e o corpo. Toque todos os dias, crie intimidade com as notas e possibilidades. Experimente tocar pela manhã, para começar um dia cheio com serenidade, experimente tocar antes de dormir para desacelerar. Permita-se sentir e encontrar o seu ritmo.”

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