
Longevidade
Muito além do treino: o hype das academias de luxo
por Larissa Nara
Nos últimos anos, a forma como enxergamos saúde e bem-estar passou por uma transformação significativa. Se antes o foco estava em sanar problemas já instalados, hoje o objetivo é aumentar os anos de vida — em tempo e qualidade — a partir de um novo olhar para o cuidado corporal: mais técnico, preciso e científico. O bem-estar deixa de ser um fim e passa a representar um estilo de vida completo, desenhado sob medida para quem está disposto a pagar (caro) por ele. É nessa onda que uma nova geração de academias de luxo vem incorporando tecnologias como inteligência artificial e dados biométricos para personalizar rotinas, “hackear” o corpo humano e, quem sabe, prolongar a vida.
Esses espaços vêm sendo chamados de clubes de bem-estar, trazendo uma proposta que rejeita a abordagem intuitiva do autocuidado e aposta em experiências altamente personalizadas, ancoradas em dados e tecnologia. Por meio da coleta de informações como exames de sangue, análises do sono, escaneamentos corporais e algoritmos de inteligência artificial, os membros recebem rotinas exclusivas que prometem aprimorar desde o condicionamento físico até a clareza mental. A Equinox Fitness Club, por exemplo, incorpora elementos de medicina preventiva e biohacking, reposicionando-se como um espaço híbrido entre academia, clínica e centro de lifestyle de luxo. Seu programa EQX Optimize — uma iniciativa que custa US$ 40 mil por ano — inclui exames laboratoriais realizados pela startup Function Health, um anel Oura para monitoramento de sono e saúde, além de sessões individuais com treinador físico, nutricionista, coach do sono e massagens mensais.
Na mesma pegada, a Continuum Club oferece programas que chegam a custar US$ 10 mil por mês, com direito a laboratórios internos e acompanhamento multidisciplinar. Já por aqui, o movimento também começa a tomar forma — ainda que dentro de um nicho bem exclusivo — com a recém-inaugurada SIX Sport Life, no Itaim Bibi, em São Paulo. Autodeclarada a primeira academia “seis estrelas” da cidade, conta com serviços como concierge, crioterapia, fisioterapia e salas de coworking integradas à rotina fitness. As mensalidades podem variar de R$ 700 (o passe para três dias) a R$ 3.500.
Esse novo modelo de academia é reflexo direto da ideia de que o corpo é uma máquina a ser otimizada — e os principais ícones desse movimento não são mais gurus de bem-estar como a Gwyneth Paltrow, mas sim bilionários do Vale do Silício, como Bryan Johnson, e influenciadores científicos como o neurocientista Andrew Huberman, que defendem abordagens baseadas em evidências e tecnologia. Por trás desse fenômeno está um conjunto de transformações sociais e culturais: o reforço da importância da prevenção e a busca por mais qualidade de vida, impulsionados pela pandemia; e a hiperconexão digital, que alimentou o desejo por dados e métricas capazes de validar decisões pessoais. Em paralelo, cresceu o valor atribuído à exclusividade e ao atendimento personalizado — uma demanda que vai da beleza à moda, passando pela gastronomia, e que agora se estende também ao universo fitness.