Suplemento de colágeno: vale a pena investir?
Saúde

Suplemento de colágeno: vale a pena investir?

por Danielle Sanches

A gente já sabe que, a partir da terceira década de vida, é esperado que o nosso corpo passe a perder mais colágeno do que a produzi-lo — o que, significa mais rugas e flacidez. No entanto, o que é exatamente é esse ingrediente tão importante e tão amado? Longe de ser “só” mais um ativo com fins estéticos, ele é, na verdade uma proteína importantíssima para o nosso corpo. “Ele é o responsável por ‘colar’ as células da derme, dar sustentação a elas, como se fosse um cimento para unir essas estruturas”, explica Elisete Crocco, dermatologista e coordenadora do Departamento de Cosmiatria da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).

Uma analogia semelhante é feita pela dermatologista Maria Eduarda Pires, membro da SBD e da SBCD (Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica). “O colágeno é como um colchão, ele dá densidade para a derme e faz com que a camada superior da pele fique estruturada, dando aparência lisa e firme”, afirma.

A questão é que esse processo não se aplica apenas à pele: o colágeno também é responsável por dar essa estrutura das fibras de todos os nossos tecidos, incluindo ossos, tendões, cartilagens, músculos e até vasos sanguíneos. Ou seja: essa proteína é realmente essencial não apenas para manter a pele em dia, mas a saúde também. Mas, então, por que ele é eliminado quando ficamos mais velhos?

Tudo na vida é equilíbrio
Existem hoje 28 tipos de colágenos conhecidos pelos cientistas e médicos. Dentre os mais comuns no corpo humano, os tipos 1, 2 e 3. E sim, há uma diferença fundamental entre eles: cada um tem um alvo diferente de atuação. Os tipos 1 e 3 por exemplo, são comumente encontrados na nossa pele e nos ossos – é esse o responsável por manter a cútis viçosa. Já o tipo 2 é encontrado principalmente nas nossas articulações.

Na infância e adolescência, enquanto estamos crescendo, a produção de colágeno está a todo vapor –afinal, precisamos de muita pele e muito tecido para dar conta do processo de formação corporal nessas fases. O responsável por essa fabricação de colágeno volumosa é uma célula chamada fibroblasto. Mas esse coleguinha é espião duplo: além de produzir, ele também degrada o colágeno, em um processo chamado de homeostase cutânea, que nada mais é do que manter o equilíbrio nesse órgão.

Sim, em excesso, tudo faz mal, incluindo o colágeno. Mas não é só isso: essa degradação acaba estimulando os fibroblastos a produzirem mais colágeno, em um ciclo vicioso (ou virtuoso?) de reposição chamado de neocolagênese. Até os 20 anos, mais ou menos, esse esquema funciona muito bem.

Ali na casa dos 20 anos, ainda podemos colher os frutos desse mar de colágeno no qual estamos imersos. Mas a partir da terceira década de vida que essa conta se inverte e os fibroblastos, cansados de trabalhar por tantos anos, passam a produzir menos colágeno, mas seguem degradando a proteína normalmente. É o chamado processo de envelhecimento intrínseco – e ele vem para todo mundo.

Parar esse processo, claro, é impossível. Mas será que existe uma maneira de retardar ou, quem sabe, ajudar o corpo a ter mais colágeno?

O papel dos suplementos
Com o processo natural de envelhecimento, o colágeno então passa a ficar mais escasso no corpo todo, incluindo, a pele. Nas pessoas com útero, há outro fator a ser considerado: a menopausa, o fim da menstruação, que vem acompanhado da queda de níveis de hormônios como estrógeno e progesterona. “Isso vai fazer com que a quantidade de colágeno diminua ainda mais rapidamente”, afirma a dermatologista Carla Vidal, de São Paulo. Para casos como esses é que existem os suplementos de colágeno hidrolisado, um produto utilizado geralmente via oral (em cápsulas, comprimidos ou pó) que estimula a produção da proteína pelo próprio corpo.

Há vários tipos de colágeno hidrolisado –lembra que falamos que tipos diferentes ficam em lugares diferentes do corpo? O tipo 2, por exemplo, é geralmente recomendado para quem tem problemas na cartilagem das articulações. Já os colágenos que teoricamente apresentam mais benefícios para a pele são os tipo verisol e peptan. “Teoricamente” porque, apesar de serem recomendados por muitos dermatologistas, as evidências científicas não foram suficientes para criar um consenso de eficácia entre a classe médica.

Mas então tomar esses suplementos seria jogar dinheiro fora? De jeito nenhum. “Existem, sim, estudos que mostram um benefício. É melhor do que não tomar”, afirma Crocco. Ela lembra, no entanto, que só fazer uso desses suplementos não é garantia de milagre nenhum. “Não há mudança gritante”, reforça. “E esse uso pode ser otimizado se aliado a processos estéticos que estimulam o colágeno da pele, como peelings e lasers”, diz.

É mais ou menos o que acontece quando o corpo está crescendo: como esses procedimentos “machucam” a pele, ela imediatamente mobiliza os fibroblastos para produzir colágeno e reparar o dano. “O envelhecimento ainda existe, claro, mas as novas fibras são mais ‘gordinhas’, dando profundidade para a pele, que é o que mostra viço”, afirma a especialista.

Ainda na caixinha dos suplementos, recentemente chegou ao mercado o Bodybalance, um outro suplemento com colágeno que atua mais nas células musculares. “Dessa forma, estamos aumentando a oferta dessas proteínas, o que faz diferença no aspecto do tônus e na flacidez da pele em geral”, afirma Ana Teresa Mello, médica integrativa com foco em nutrologia e idealizadora da Clínica Purah Saúde Integrativa, em São Paulo.

E os dermocosméticos?
O uso de colágeno tópico, ou seja, aplicado na pele, existe e tem a finalidade de tornar a cútis mais firme e hidratada, além de prevenir o envelhecimento precoce. Mas, de acordo com Maria Eduarda Pires, não há comprovação científica de que ele funcione.

Por outro lado, é crescente o uso de peptídeos considerados precursores do colágeno em dermocosméticos para serem aplicados de forma tópica na pele. A The Chemist Look, por exemplo, possui em sua linha o Collagene, um sérum com peptídeos de colágeno humano desenvolvidos em matriz vegetal que promete aumentar e estabilizar o colágeno na pele. O sérum também tem em sua composição a lisina, um aminoácido presente na composição do colágeno e que o corpo não produz. Por isso, aumentar a sua quantidade no corpo ajudaria, em tese, a estimular a formação de mais proteína.

A lisina está na lista de ingredientes do Cacau Glow, um suplemento vegano, em pó, da Care Natural Beauty. Embora seja um suplemento em pó e não um dermocosmético, ele foca exatamente nos ativos precursores do colágeno no corpo – ou seja oferece um bom aporte de ativos para facilitar a vida dos fibroblastos na hora de trabalhar.

Estilo de vida
Encontrar uma “pílula milagrosa” que resolva nossas questões estéticas “num passe de mágica” é o sonho de muita gente. Só que o corpo não é uma máquina e, por isso mesmo, as soluções geralmente são a combinação de várias ações que devem ser feitas por muito tempo –e até por toda a vida.

No caso do colágeno, isso também é verdade. Os tratamentos e suplementos ajudam, claro, permitindo um envelhecimento mais natural. Mas eles serão menos eficazes se a pessoa não aliar isso a bons hábitos de vida.

É isso mesmo: o que é bom para a saúde como um todo vai beneficiar a sua pele também, oras. Beber em excesso, dormir pouco, comer muito açúcar, fumar e ser sedentário faz mal para o coração, mas também acelera a degradação de colágeno na pele. “Por meio de um bom estilo de vida, conseguimos retardar essa perda de colágeno”, afirma Mello.

Ela lista as mudanças: manter uma alimentação equilibrada e rica em proteínas e aminoácidos; evitar alimentos inflamatórios (como o açúcar), refinados, embutidos, ultraprocessados, e maneirar no consumo de bebida alcoólica. “Não fumar e evitar a exposição solar excessiva também fazem parte das recomendações, além, claro, de contar com os suplementos específicos para essa finalidade”, complementa.

A dermatologista Carla Vidal vai além e reforça a importância de aumentar o consumo de proteínas de alto valor biológico (ou seja, melhor aproveitadas pelo organismo) para ajudar a síntese de colágeno após os 30 anos. “Carne vermelha e branca, peixe, ovos, além de castanhas e iogurtes devem estar sempre presentes à mesa com essa finalidade”, afirma.

Resumo da ópera: envelhecer bem, de forma saudável, não é garantido apenas pelos suplementos que ingerimos ou tratamentos que realizamos, mas uma combinação de todos esses esforços aliados ao estilo de vida equilibrado. “Envelhecer é humano e nada vai parar isso. O que podemos fazer é melhorar o processo para avançarmos nos anos de forma plena”, finaliza Crocco.

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