Menos álcool: a expansão de bebidas e drinks focados em bem-estar
Futuro

Menos álcool: a expansão de bebidas e drinks focados em bem-estar

por Larissa Nara

O aumento do consumo de bebidas alcoólicas no mundo todo é um dos (muitos) efeitos da pandemia – tanto que até levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a recomendar que os países limitassem a venda de bebidas do tipo no ano passado. Entre as pesquisas que analisaram o cenário, um estudo publicado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em 2020, mostrou que os latino-americanos, principalmente os brasileiros, exageraram no consumo de álcool durante os primeiros meses do isolamento social. Fatores como estresse exacerbado, o desejo por relaxamento e busca por distrações dentro de casa podem ser, por exemplo, algumas das motivações apontadas por especialistas como Néli Pereira.

Jornalista, pesquisadora de brasilidades e expert em bebidas, Néli, que já falava sobre consumo responsável de álcool em suas redes sociais, intensificou a abordagem do tema. “A audiência das lives sobre o assunto, às segundas-feiras, cresceu e mostrou que outras pessoas também estavam não só atentas a ingestão de álcool, mas também abertas a aprender, experimentar e transformar hábitos de consumo de maneira geral”, diz.

Chamada de sober curious (em tradução livre, sóbrio curioso), a tendência conversa com quem deseja relacionar bebida a um momento de prazer, mas de forma diferente. Em sua coluna na Folha de S.Paulo desta semana, Ronaldo Lemos fala deste mercado gigantesco e repleto de “adultos que buscam manter o prazer em eventos sociais sem os efeitos negativos do álcool”. Para Néli, muitas vezes, quando relacionamos bebidas com prazer, nos ligamos diretamente (e somente) à potência alcoólica. “Quando, na verdade, podemos extrair muito dos ingredientes e sabores atrelados a eles”.

E, se você pensa em bebidas não-alcóolicas e logo imagina refrigerantes, isotônicos para quem pratica esportes ou energéticos de sabor duvidoso que te deixam ligada no 220W, a gente tem novidades mais interessantes para mostrar. Em um encontro que discutiu tendências do mercado de bem-estar para a categoria de não alcoólicos, Ana Henriques, vice-presidente global e head da categoria de não-alcoólicos da ABInbev, mostrou possibilidades de bebidas sem álcool e até funcionais alinhadas às tendências que a gente vive falando por aqui. Dá uma olhada:

Ancestralidade em pauta
Práticas ancestrais de cura como a ayurveda vêm alimentando o crescimento do mercado de bem-estar. Terapias conectadas aos saberes de medicinas tradicionais tornaram-se remédios modernos para quem procura algo mais natural e holístico, conectando mente, corpo e alma. “Vemos essa abordagem mais preventiva ganhando bastante força à medida que o consumidor investe mais na qualidade de vida e longevidade. Nossa equipe na China está constantemente estudando esse movimento ligado à cultura local”, disse Ana. “No mercado de bebidas, soluções estão surgindo à medida que ingredientes adaptogênicos e nootrópicos se tornam populares nesta busca por nutrir o potencial do cérebro. Ingredientes como ervas, cogumelos e sementes desempenham um papel relevante nesta pesquisa. Também lançamos, recentemente, uma “bebida social” não alcoólica [a Moodring, ainda não disponível no Brasil] que tem ingredientes como ashwagandha e guayusa”, completou.

Sono da beleza
Dormir bem sempre foi essencial para uma vida saudável, mas pesquisas mostram que o sono reparador não é algo comum: de acordo com o CDC, Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, dormir mal pode ser considerado uma epidemia entre os americanos — espera-se que o mercado do sono movimente US$ 532 bilhões até 2026. Segundo dados de 2021 da Uswitch, as buscas por aplicativos pra ajudar a dormir e relaxar aumentaram 104% no ano passado, assim como um o crescente interesse em fronhas, suplementos e alimentos funcionais a base de CBD, meditações e terapias holísticas. “A indústria de bebidas também está procurando alternativas que tenham menos impacto na nossa capacidade de relaxamento, fornecendo substitutos à cafeína típica, como a vitamina B, conhecida por sua capacidade de energizar e revigorar”, contou Ana. Um dos exemplos é a Driftwell, nova bebida da PepsiCo. Sem gás nem açúcar, tem sabor inspirado nos spas, com gostinho de lavanda e ingredientes como l-teanina, aminoácido presente no chá verde e em alguns cogumelos, que atua relaxando a mente e o corpo.

Aproveitamento máximo
A gente já mostrou aqui o tanto que a indústria de beleza vem trabalhando com o descarte de resíduos que podem virar, por exemplo, ativos do seu skincare de todo dia. Ana mostrou que o mesmo acontece entre as bebidas não alcóolicas. Um exemplo recente é a Take Two, bebida feita a base de leite vegetal produzido a partir de um subproduto nutritivo da cevada que antes era descartado pela indústria de cerveja.

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