Skincare: o futuro do ‘clean beauty’ é biossintético
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Skincare: o futuro do ‘clean beauty’ é biossintético

por Danielle Sanches

foto: Alex Batista

“Clean beauty” ou “beleza limpa”, em uma tradução livre, é desses movimentos irrevogáveis da indústria da beleza. Muito falado nos últimos anos, o assunto é associação quase imediata, para a maioria dos consumidores, com produtos formulados com ingredientes naturais e livres de crueldade animal. Agora, o próximo passo é fazer com que o impacto ambiental também seja um marcador importante na hora de produzir e consumir produtos clean.

Uma das discussões recorrentes é o uso indiscriminado dos ingredientes vegetais, a forma como o processamento e cultivo consome recursos (energia, solo, combustível), incluindo quais relações de trabalho são alimentadas por essa cadeia produtiva. É aí que entram os biossintéticos — ativos, que podem ou não ser derivados de substâncias naturais, desenvolvidos em laboratórios de biotecnologia ou bioengenharia. “Estão em alta pois, além de reduzirmos o impacto ambiental, também temos a chance de aumentar a performance das moléculas”, avalia Maria Eugenia Ayres, farmacêutica e gestora da Biotec, empresa especializada em ativos para dermo e nutricosméticos. 

Um bom exemplo que a gente não cansa de citar aqui e é um dos mais famosos no mercado é o da Biossance, que desenvolveu uma versão do esqualano – originalmente encontrado no óleo feito a partir do fígado de tubarões – a partir da fermentação de cana-de-açúcar. “Projetamos a cepa de levedura perfeita e depois a misturamos com o xarope de cana. Por meio do processo de fermentação, a levedura converte o açúcar em uma molécula sintética de esqualano”, explicou Catherine Gore, presidente global da marca.

O resultado é um produto totalmente biocompatível com a pele, que aumenta os níveis de hidratação do tecido e está presente em todos os produtos da marca. “É um caminho sem volta”, acredita Ana Lia Vandoni, gerente sênior de educação global da marca. “Ao usar biotecnologia, conseguimos reproduzir ingredientes de plantas em extinção, por exemplo, sem estimular o fim deles na natureza”, avalia. Ana acredita ainda que, com os avanços da tecnologia, as empresas terão cada vez mais potencial de desenvolver produtos totalmente biotecnológicos e 100% feitos em laboratório. “É uma mudança que vai acontecer e estamos fazendo a nossa parte”, reforça. 

Em solo nacional, grandes marcas brasileiras de cosméticos também estão investindo em tecnologia para cultivarem seus ativos biossintéticos. É o caso de O Boticário, que lançou a linha Botik de cuidados faciais com 10 ingredientes desenvolvidos por cientistas nas bancadas de laboratórios. De acordo com Gustavo Dieamant, diretor de Produtos e Desenvolvimento do Grupo Boticário, o destaque da linha é a alga da neve, que oferece ação antioxidante potente. Como crescem apenas em áreas de clima alpino, o ativo é extraído a partir do cultivo da coenochloris signiensis em biorreatores na Suíça. Outros ativos usados na coleção, como os ácido hialurônico e kójico, são produzidos a partir de bactérias e fungos criados em laboratório. “Os processos biossintéticos garantem uma pureza mais elevada e ainda permitem a criação de moléculas com modificações que aumentam a sua disponibilidade na pele”, afirma Gustavo. “Por isso, podemos dizer que esses ingredientes permitem uma maior eficácia.”

O cultivo de microrganismos em reator também é feito pela CARE Natural Beauty, marca que nasceu em 2017 com o objetivo de trazer maquiagens e produtos de skincare com formulações mais naturais. O ativo EPS Seafill, que tensiona a pele e preenche rugas está presente nos produtos Skindrops Filler e Instant Eye Lift e é produzido a partir de uma substância secretada por plânctons marinhos coletados no Mar de Iroise, na costa francesa, e depois cultivados em biorreatores. “É uma produção controlada que garante a reprodução exata da estrutura química e da pureza do produto final”, afirma Letícia Carta, Head de Marketing da CARE Natural Beauty. Para ela, os biossintéticos vieram para ficar e estarão cada vez mais presentes nos produtos de beleza e skincare. “Com eles, vamos poder desenvolver cada vez mais formulações inovadoras utilizando os melhores ativos da natureza sem o custo predatório”, acredita. 

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