Da pele a problemas respiratórios: como a poluição pode afetar a nossa saúde
Saúde

Da pele a problemas respiratórios: como a poluição pode afetar a nossa saúde

por Danielle Sanches

Ela está no céu de cor acastanhado, nas partículas de ar que você respira, na água que você bebe e até nos sons e imagens que você encontra pela frente. A poluição é praticamente onipresente – e as consequências vão além do dano ambiental, influenciando também a nossa saúde. Para se ter uma ideia, dados do renomado periódico científico The Lancet afirmam que a poluição causa mais de 9 milhões de mortes prematuras todos os anos – 7 milhões relacionadas à poluição do ar. Asma, as terríveis “ites” (rinite, sinusite…) e até câncer de pulmão, por exemplo, estão entre as doenças que aumentaram consideravelmente desde que a poluição atmosférica atingiu níveis alarmantes. “Inflamações pulmonares associadas à poluição também podem causar uma redução na capacidade respiratória do indivíduo”, afirma Roberta Frota Villas Boas, endocrinologista do Hospital Nove de Julho, em São Paulo.

Mas o que é poluição?
Quando falamos em poluição, é bem fácil imaginar logo aquele desenho do lixo sendo jogado nos rios que vemos em livros didáticos e revista em quadrinhos. Mas o assunto vai bem mais longe do que isso.

Tecnicamente, o termo pode ser descrito como a introdução de materiais nocivos no meio ambiente. Esses materiais são chamados de poluentes e podem ser naturais – como as cinzas vulcânicas – ou produzidos por nós, humanos, como lixo doméstico e os resíduos industriais, por exemplo. No caso do ar, a poluição atmosférica (esse é o nome técnico) corresponde à contaminação por agente químico, físico ou biológico que modifique as características naturais do ar.

O problema dos microplásticos
Recentemente, no entanto, outro tipo de poluição se tornou uma dor de cabeça para ambientalistas e cientistas: a contaminação de rios, mares e solo por microplásticos, partículas com tamanho inferior a 5 milímetros (alguns pesquisadores também falam em nanoplásticos, com partículas de tamanho inferior a 1 milímetro). Se você lembrou das microesferas de algumas fórmulas esfoliantes para pele, acertou em cheio – mas esses não são os únicos, nem a principal forma de despejar esse resíduo na natureza.

“Além do descarte de indústrias, uma das maiores formas de contaminação é o descarte de água doméstico após a lavagem de roupa, que leva junto uma enorme quantidade de microfibras”, afirma a bióloga Danila Soares Caixeta, professora do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental e do Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Uma vez no esgoto urbano, não há sistemas de filtragem nas estações de tratamento que consigam impedir que essas micropartículas plásticas sigam para rios e mar, contaminando também o solo pelo caminho. Daí para entrar no nosso corpo, é um pulo. “Nós estamos, literalmente, comendo microplásticos”, lamenta a especialista. “Eles são engolidos por peixes, absorvidos pelas plantas e nós consumimos isso. É a sequência da cadeia alimentar”, explica.

A prova disso é que os microplásticos já foram encontrados no pulmão e até no coração de seres humanos. Os danos que eles podem causar ainda estão sob análise, mas a previsão para o futuro é sombria: em 2016, uma estimativa divulgada no Fórum Econômico Mundial de Davos prevê que, em 2050, os oceanos terão mais plástico do que peixe. E muitos desses serão, claro, os microplásticos.

Como tudo isso afeta a nossa saúde?
Difícil mesmo é dizer como a poluição não afeta a nossa saúde, já que ela nos cerca por todos os lados: está no ar que respiramos, na comida que consumimos e nos ambientes em que vivemos. Mas, antes de entrar em pânico, vale um disclamer: embora seja um tema cada vez mais relevante e que certamente tem impacto na nossa saúde, ainda é uma área da ciência em que existem mais perguntas do que certezas. “Mesmo os estudos que temos hoje não são conclusivos. Ainda existem pesquisas sendo realizadas para esclarecer melhor os conhecimento que já temos”, afirma Villas Boas.

Dito isso, é consenso hoje que a poluição se tornou um problema ainda mais sério por aumentar o risco para doenças que, sozinhas, já fazem estrago na humanidade, como os problemas cardiovasculares e neurodegenerativos, além do próprio câncer. Muitos estudos, por exemplo, tentam entender qual a relação dessas doenças com a aspiração de material particulado fino (PM2), que chega até nós por meio de poeira, fumaça e outros materiais sólidos suspensos na atmosfera.

Outros poluentes, como monóxido de carbono (oi, carros), ozônio, dióxido de nitrogênio e dióxido de enxofre também são despejados aos montes na atmosfera e são considerados perigosos à saúde. Mas qual exatamente seria o perigo disso? Basicamente, quando aspiramos essas partículas, elas vão parar dentro do corpo e provocam uma reação natural de defesa – a temida inflamação.

O temor, então, é que essa inflamação ultrapasse a linha de defesa dos pulmões (que recebem o primeiro baque da aspiração) e se torne crônica, criando problemas para o resto do corpo. Uma pesquisa americana publicada na revista Nature Communications, por exemplo, acompanhou por 18 anos a relação entre poluição e aumento de casos de demência e Alzheimer nos EUA. O resultado mostrou que existe, sim, uma relação entre a exposição excessiva ao PM2 e ao dióxido de nitrogênio e o aumento desses diagnósticos.

Os dados corroboraram estudos anteriores realizados com populações da China e Inglaterra, que associaram a toxicidade desses componentes aspirados a problemas cognitivos. No caso do diabetes, uma pesquisa do periódico Lancet Planetary Health estimou que 3,2 milhões de novos casos de diabetes por ano podem ser atribuídos aos efeitos da poluição elevada do ar. Aqueles que residem ou residiam em áreas atingidas por grandes incêndios florestais também estão em risco, já que eles também emitem partículas poluentes no ar. Um trabalho de 2020 feito pela Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, revelou que aspirar essas partículas aumenta o risco de complicações em pessoas com diabetes. 

Coincidentemente (ou não), todas essas doenças têm um componente inflamatório importante para desencadear o quadro. Mas também são doenças que podem surgir por fatores genéticos e têm influência dos hábitos de vida individuais – daí a dificuldade em dizer que apenas a poluição é a malvada nesse quadro.

No caso da pele, no entanto, a inflamação crônica provocada pela poluição fica mais fácil de ser vista. “As micropartícula aumentam a incidência de doenças de pele inflamatórias, como acne, dermatites e psoríase, além de favorecer a degradação do colágeno e o envelhecimento cutâneo”, diz a dermatologista Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), de São Paulo.

É possível minimizar os impactos?
Depende. A menos que você se mude para lugares distantes de centros urbanos (e bem distantes mesmo), as partículas de poluição no ar e os microplásticos ainda estarão presentes no seu dia a dia. Hoje, a atividade industrial é a principal agente poluidora do mundo. Para reduzir isso, seria importante a aplicação de políticas públicas voltadas reduzir esse descarte. O problema, como sabemos, é que esse tipo de ação geralmente demora anos para ser criada e implementada.

O que fazer então? De acordo com Villas Boas, o melhor é focar naquilo que podemos modificar. “Alguns poluentes dependem do nosso estilo de vida, como o uso de carros para deslocamentos”, diz. Ou seja, reduzir o uso de automóveis e até considerar comprar uma bike, se for possível, deveria ser algo estimulado para toda a sociedade. Diminuir o consumo no geral também é uma forma de controlar o volume de lixo descartado. Nesse sentido, existem diversas iniciativas de moda circular –os famosos brechós—que podem ajudar.

E, para preservar a saúde, não tem jeito: como não vamos conseguir eliminar de vez todas essas substâncias nocivas ao corpo, o jeito é se apegar ao que pode ser controlado. Isso quer dizer manter sob controle outros fatores que influenciam o nosso organismo, como alimentação, consumo de álcool e cigarro e prática de atividade física. Tudo isso vai contribuir para reduzir o risco de ficar doente –mesmo que a poluição não dê trégua.

No caso específico da pele, é importante também tomar algumas medidas para evitar o envelhecimento precoce e estimular a formação de colágeno, já que as substâncias nocivas vão causar um estresse oxidativo prejudicial à pele. “A limpeza com sabonete e tônico devem ser complementadas com uso de cremes antissinais com ativos como vitamina C e niacinamida”, afirma Pomerantzeff.

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